segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

TRISTE FIM DE POLICARPO, NA QUARESMA

Policarpo brincou!

Naquela quarta feira
Cinza e nublada
Beijou bocas, chupou línguas

Policarpo pulou...

Vestiu-se de mulher
Travestiu-se de homem
Bateu palmas, gingou

Policarpo frevou...

Cantarolou marchinhas
Bebeu cerveja
Tomou cachaça

Policarpo sambou...

Distribuiu sorrisos
Abraços
Mãos bobas, dedadas

Policarpo gritou...

Mas, ao término da folia
Naquele ponto de ônibus
Sozinho e bêbado

Policarpo dormiu...

No dia seguinte Policarpo era noticia no mundo

As capas dos jornais estampavam
O Triste Fim, numa quarta feira de cinzas

As redes de televisão e rádio anunciavam
O trágico fim de mais um negro pobre da periferia

Nas redes sociais, protestos e mais protestos...


Atearam fogo no pobre Policarpo
Enquanto dormia na parada
Parado,  imóvel

Só sobraram as cinzas
[e a arcada dentária]

Logo Policarpo, negro, de família pobre nordestina
Logo ele, malandro maluco maloqueiro
Que sabia entrar nas inteiras quebradas
Nas quebradas quebradas

Logo ele
Dormiu no ponto...

Foi morto por jovens de classe média
De alta periculosidade
Que atearam fogo em seu corpo
Por puro preconceito

E o pai
Seu Lima
Católico fervoroso
Ficou indignado, pois o filho foi morto
No começo da Quaresma

Naquele dia
Seu Lima perdeu a voz
A alma

Era muito choro
Muito sofrimento
Era Policarpo, o filho, o amigo

Era o Triste Fim, na Quaresma
Era o fim do carnaval

O dia em que Policarpo dançou...





Caranguejúnior salve Lima Barreto

Nenhum comentário: